Segunda-feira, 29 de julho de 2024
- Duarte Carrasco
- 23 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Nicolás Maduro foi declarado vencedor das eleições na Venezuela realizadas ontem. No entanto, a legitimidade desta vitória é, como de costume, altamente questionável. Maduro recusou qualquer tipo de fiscalização internacional, o que já é um indício suspeito num processo que deveria ser democrático e transparente. Os resultados foram anunciados de forma abrupta, com apenas 80% dos votos contados, e sem qualquer clareza sobre o processo de apuramento.
A situação atual na Venezuela é apenas o culminar de um longo processo de erosão democrática que começou com a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1999. Chávez, que inicialmente se apresentava como um defensor d@s pobres e um campeão contra a corrupção, rapidamente transformou o seu governo numa máquina de controlo autoritário. Ele aproveitou-se da sua popularidade e do seu discurso populista para minar as instituições democráticas do país. O Parlamento, dominado pel@s seus/suas aliad@s, concedeu-lhe repetidamente poderes para legislar por decreto, afastando qualquer forma de oposição ou crítica. Esta concentração de poder foi o primeiro passo para a deterioração das liberdades democráticas na Venezuela, um padrão que Maduro continuou e intensificou após a morte de Chávez.
Durante os primeiros anos do governo Chávez, a Venezuela experienciou um declínio económico significativo. A má gestão e a corrupção generalizada tornaram-se comuns, agravadas pela crescente intervenção do Estado na economia. Embora o aumento dos preços do petróleo no início dos anos 2000 tenha proporcionado um alívio temporário, permitindo ao governo financiar programas sociais e manter algum apoio popular, estas medidas eram insustentáveis a longo prazo. A economia foi enfraquecida por políticas que desincentivavam o investimento privado e criavam um ambiente de incerteza e medo. O resultado foi um país economicamente dependente de uma única fonte de receita e vulnerável a qualquer queda nos preços do petróleo, algo que se tornou evidente quando os preços caíram e a economia entrou em colapso.
Após a morte de Chávez em 2013, Nicolás Maduro assumiu o poder, prometendo continuar o legado do seu mentor. No entanto, a sua governação apenas aprofundou a crise económica e social do país. A recessão que começou pouco depois da sua ascensão ao poder foi exacerbada por uma série de decisões políticas desastrosas, incluindo a repressão das liberdades civis e a manipulação dos resultados eleitorais para manter o poder. A hiperinflação e a escassez de bens básicos tornaram-se parte da vida diária para muit@s venezuelan@s, com relatos de famílias inteiras a perderem peso devido à falta de alimentos. Em vez de enfrentar estes problemas com reformas genuínas, Maduro optou por endurecer ainda mais o seu regime, usando a repressão e o controlo das instituições para silenciar qualquer forma de oposição.
Este padrão de abuso de poder e destruição económica é um lembrete claro dos perigos que as ideologias extremas representam quando levadas ao seu limite. O governo venezuelano, sob Chávez e Maduro, prometeu um paraíso socialista, mas entregou um pesadelo de pobreza, repressão e caos. As políticas que deveriam supostamente beneficiar o povo acabaram por sufocar a economia e destruir as oportunidades de prosperidade para milhões de venezuelan@s. E, como sempre acontece em regimes autoritários, aquel@s que ousam criticar ou se opor ao governo enfrentam repressão e violência, com muit@s a serem pres@s ou forçad@s ao exílio.
Em Portugal, felizmente, temos a sorte de viver numa democracia estável, mas isso não significa que estamos imunes a essas ideologias perigosas. Ainda há vozes que, cegas pela crença, defendem políticas semelhantes às que foram implementadas na Venezuela, ignorando completamente as lições que este país nos oferece. É crucial que continuemos a valorizar a transparência, a liberdade de expressão e a responsabilidade governamental, combatendo qualquer forma de autoritarismo, seja de esquerda ou de direita, para proteger a liberdade e o bem-estar do nosso povo.
A Venezuela serve como um aviso claro para tod@s nós sobre os perigos de um governo que concentra demasiado poder nas mãos de pouc@s e negligencia a vontade e o bem-estar da sua população. Não podemos permitir que ideologias extremas ganhem terreno em Portugal, especialmente quando vemos tão claramente o impacto devastador que podem ter num país e no seu povo. Devemos aprender com os erros d@s outr@s para garantir que não cometemos os mesmos.
À medida que olho para a situação na Venezuela, não posso deixar de pensar em como é fácil para alguns/algumas serem seduzid@s pelas promessas vazias de líderes populistas que prometem o céu mas entregam o inferno. É um lembrete de que devemos ser vigilantes na proteção das nossas próprias instituições democráticas e de que a liberdade é algo que devemos constantemente lutar para preservar.
Por fim, a História da Venezuela é uma história de aviso para tod@s nós. É um lembrete de que a democracia e a liberdade são frágeis e que precisamos de estar sempre atent@s e dispost@s a defendê-las contra aquel@s que procurariam subvertê-las para o seu próprio ganho. Não podemos permitir que a História se repita, e devemos fazer de tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que o nosso futuro não seja marcado pelos mesmos erros que condenaram a Venezuela ao caos e à miséria.
Enquanto isso, a resposta internacional à eleição venezuelana tem sido variada, com algumas nações a condenarem fortemente a falta de transparência e o aumento da repressão, enquanto outras permanecem em silêncio ou até oferecem apoio tácito a Maduro. Este ambiente global dividido só serve para complicar ainda mais a situação, reforçando a posição de Maduro e dificultando os esforços de mudança. É um cenário onde a diplomacia e a pressão internacional se mostram ineficazes, revelando as limitações do sistema global em confrontar regimes autoritários. É perturbador ver como, em pleno século XXI, ainda assistimos à perpetuação de ditaduras que sufocam a vontade popular e restringem liberdades fundamentais.
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